Conseguir um emprego, crescer na carreira e receber
aumentos é mais difícil para as gordinhas
Se as regras oficiais ditadas pelo mercado de trabalho são rígidas, as não escritas podem ser cruéis, sobretudo com as mulheres. É o que indica uma pesquisa da Universidade de East Lansing, em Michigan, nos Estados Unidos. Ao avaliar os índices de massa corpórea dos executivos da listagem dos maiores CEOs, publicada anualmente pela revista de negócios Forbes, o estudo concluiu que obesos de ambos os sexos estão subrepresentados na liderança de empresas quando comparado à fatia que ocupam na população. Mas quando se fala de sobrepeso – a faixa em que as gordurinhas já são mais abundantes do que os médicos gostariam, mas ainda não são suficientes para classificar alguém como obeso -, as mulheres ocupam muito menos vagas de destaque do que os homens.
Camila Rodrigues, 22 anos, mandou mais de 100 currículos até ser aceita em uma vaga em vendas O efeito “teto de vidro” representa o momento em que um determinado profissional não consegue avançar na carreira, embora tenha qualificação profissional. Uma mulher estar acima do peso pode ser um dos causadores desse fenômeno, sugere o estudo de Mark Roehling, professor associado do departamento de recursos humanos da Universidade de Michigan. “Ser obeso limita portunidades para ambos os gêneros, mas ter apenas sobrepeso só prejudica as mulheres, e pode até beneficiar homens em cargos de liderança”, afirma. Quando se fala de CEOs obesos, homens e mulheres têm representação idêntica: 5%. Na faixa de sobrepeso, no entanto, abre-se um abismo: enquanto até 61% dos homens na mesma posição têm excesso de peso, o índice estimado de mulheres não passa de 22%.
De quebra, a obesidade também pesa a mais na conta bancária feminina. Se homens acumulam US$2.646 em despesas extras anuais por ser obeso, para as mulheres, esse valor é de US$4.879, de acordo com um estudo recém-divulgado da Universidade George Washington, nos Estados Unidos. Boa parte dessa diferença é devido aos salários e compensações das mulheres obesas, bem menores em relação ao colega de trabalho homem que não é obeso. O valor inclui ainda perdas com despesas médicas e custos indiretos, como salários perdidos e redução de produtividade no trabalho.
Para a colunista de negócios e carreira do Delas, Marlene Ortega, a imagem pesa muito na hora da seleção. “É como se uma mulher acima do peso não tivesse entendido as mensagens não verbais que a sociedade passa para ela”, diz Ortega, que critica a associação de peso a competência. “No ambiente corporativo, nós devemos procurar competências, que são internas.”
A tendência é que o “teto de vidro” se espalhe também em outros patamares de carreira, não apenas entre altos executivos. A vendedora Camila Rodrigues precisou driblar vários departamentos de RH para trabalhar com o público, que é o que gosta. “Eu distribuí mais de 100 currículos em shoppings no Rio de Janeiro. Fiz entrevistas, workshops... e nada.” A resposta era sempre de que estava inadequada para a vaga, muitas vezes depois de ter de preencher uma ficha com medidas de peso, busto, quadril e altura. Até que passou na seleção de uma loja de produtos para banho, há três anos. “Estou com 90kg para 1,65m e feliz com meu trabalho. Sei da minha capacidade e competência”, afirma.
Construir uma imagem corporativa ideal pode passar por atalhos. A consultora de imagem Maria do Carmo Marini orienta suas clientes no sentido de se adequarem aos códigos da empresa. “Trabalho para as pessoas se adaptarem a empresa onde elas pretendem crescer”, afirma. “Muita gente chega com essa queixa do peso. Perder peso é muito difícil, então eu lido com fazer as pessoas se sentirem melhor, trabalhando a escolha de roupas e sapatos”. Para ela, o importante é evitar uma mensagem de desleixo com a aparência, valorizando pontos fortes. “Meus principais clientes são mulheres, porque elas sofrem mais a pressão de provar que são boas e competentes para a função”.
Fonte: iG São Paulo, Verônica Mambrini
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